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2004/11/25

Música: Ao som dos teus afectos 

Depois de uma série de discos que classifico de forma muito positiva, Bernardo Sasseti trabalhou em algo chamado Indigo. Não ouvia nada tão bom há muito tempo, e não ouço tão poucas coisas quanto isso...

Atrevo-me a dizer que me aninhei na manta do sofá (a propósito, tenho de comprar outra) e me deixei levar pelos sons deste filho feito em Belgais. Rasgos de génio, sons de aconchego, ternura, conforto puro. Chegamos a pensar ao ritmo das mãos do Bernardo.

Indigo é tão íntimo que por vezes damos por nós a pensar sem vergonha, sem limites... É uma espécie de "passe social" para o sonho. A tarifa não aumenta, mas o que cresce é a distância que podemos percorrer. Mais uma vantagem, não tem última paragem.

Se os afectos de nos ligam a quem gostamos emitissem sons, não deveriam ser muito diferentes destes...

2004/11/21

Segundos... 

Prefiro mulheres com passado. Têm uma conversa muitíssimo mais interessante.


Oscar Wilde

2004/11/20

Entre-aspas: Caminhos... 

Esta manhã parei. Parei enquanto lias alto uma crónica. As palavras transformaram-se em sensações, o coração bateu mais forte enquanto ouvia os parágrafos que se sucediam, marcados pela tua voz clara. Imaginei-me a mim próprio dentro de trinta ou quarenta anos, senti-me hoje no lugar do filho apressado, vi-me partir ou ficar... Mas senti sobretudo que vale a pena sentir. Sentir para saborear o privilégio de cada instante único que nos é dado viver. E está um sol fantático lá fora...

O texto começa assim:

«Envelheci, sabes? Já não tenho a paciência que sempre gabavas. Estou mesmo velha. Tenho muitas vezes frio e uma vontade enorme de voltar para casa. Os netos cresceram e já não me visitam com frequência, os filhos aparecem, sempre ocupados, como que a cumprir uma obrigação.

Se fosses vivo, farias hojes setenta e cinco anos. (...) Um dia acordei de manhã e estavas morto a meu lado. Sereno, como sempre foste. A príncipio quis convencer-me de que estavas doente, quase jurava que ainda ouvia a tua respiração, mas toquei-te e não tive dúvidas, tinhas partido. Sem aviso, ao contrário do que sempre fazias: até logo à meia-noite. E eu ficava para ali à tua espera, às vezes em casa de um dos filhos, quase sempre na nossa sala, a folhear um jornal. E espreitava-te sonoloenta, quando chegavas, fingia que dormia quando te deitavas e encostavas o teu corpo ao meu. (...)»

Daniel Sampaio, Revista XIS, Jornal Público, 20 de Novembro de 2004

2004/11/11

Música: A 7ª Legião regressa por 1 noite 

No primeiro comentário ao post anterior, um dos nossos leitores/visitantes pediu-nos que divulgássemos um concerto de solidariedade que se realiza no dia 26 deste mês, no Fórum Lisboa (antigo Cinema Roma). Tem graça e foi a primeira vez que aconteceu.

Achámos todos que a resposta era um "sim" imediato. Primeiro, pelo motivo do concerto, que é organizado pelo Grupo de Acção Comunitária, uma instituição de solidariedade social que procura contribuir para que pessoas com doenças psiquiátricas possam ter cuidados de saúde sem terem que estar internadas em instituições. Depois, pelo concerto em si.

É a primeira vez em muito tempo que a Sétima Legião se volta a juntar e não se prevê que essa reunião se repita no futuro próximo. Vai ser uma oportunidade para vermos o Rodrigo Leão no seu ambiente original, com os companheiros do seu percurso antes da carreira a solo e antes dos Madredeus. Depois, ando curioso para ver os Gaiteiros de Lisboa há muito tempo...

Os bilhetes podem ser comprados no próprio Fórum Lisboa, na Ticket Line ou na FNAC, que é onde eu vou comprar dois bilhetes daqui a pouco...

2004/11/07

Momentos: Deriva 

Vi as águas os cabos vi as ilhas
E o longo baloiçar dos coqueirais
Vi lagunas azuis como safiras
Rápidas aves furtivos animais
Vi prodígios espantos maravilhas
Vi homens nus bailando nos areais
E ouvi o fundo som das suas falas
Que nenhum de nós entendeu mais
Vi ferros e vi setas e vi lanças
Oiro também à flor das ondas finas
E o diverso fulgor de outros metais
Vi pérolas e conchas e corais
Desertos fontes trémulas campinas
Vi o frescor das coisas naturais
Só do Preste João não vi sinais

As ordens que levava não cumpri
E assim contando tudo quanto vi
Não sei se tudo errei ou descobri

Sophia de Mello Breyner Andresen

2004/11/02

Teatro: Talvez Camões 

Existem impulsos que por vezes não se explicam. O Chapitô é por si só um lugar mágico. Um vinho quente com canela e hortelã neste primeiros dias de frio... delicioso e reparador. Em ritmo de zapping pela TV, vi um excerto da peça que vos trago. "Non-sense". Sorri e decidi naquele instante que era a peça certa para escolher para aquela data. Éramos 12 pessoas, ninguém tinha lido nada sobre a peça, sabia (pela obviedade do título) que Camões poderia ser a caricatura escolhida. Não li nada mais. Quando se entra na sala do Chapitô, os actores Jorge Cruz, José Carlos Garcia e Rui Rebelo já se encontram no espaço da cena, com uma imagem desordenada e aparentemente indiferentes aos vários estímulos da plateia que vai chegando... A sala nada reflecte o espaço que nós à partida espectamos para um Teatro. É intimista, quente e acolhedoramente vazia. Não conhecia nenhum dos actores (shame on me) mas são todos muito especiais. Muito mesmo. A peça dura 1h45m e passa com uma leveza e bem estar únicos. Rir, sorrir mas o mais importante de tudo partilhar a criatividade de um encenador John Mowat que de uma forma simples nos leva a viajar por sons, expressões, emoções, todas estas de uma energia francamente positiva! E o tão famoso "olho" que Camões perdeu... só quando por lá passarem é que realmente vão conhecer o verdadeiro motivo que os Deuses guardavam no seu segredo!

A peça vai regressar a partir de 15 de Novembro até ao Natal. Eu por mim, vou repetir! Sem hesitar! Talvez... leve comigo mais 12!

2004/11/01

Filmes: Vai uma dose de McGordura? 

Os documentários com uma causa parecem estar a ganhar expressão nos nossos cinemas. É verdade que foi Michael Moore quem conquistou esse espaço, mas a escola está a crescer e Morgan Spurlock parece ser um bom discípulo. Super Size Me é o primeiro filme de longa duração de Morgan. Talvez seja por isso que ele escolheu o caminho de ser produtor, realizador e, acima de tudo, a cobaia do filme. Sim, porque é disso que se trata.

Inspirado pelo processo que duas adolescentes moveram contra a McDonalds, Spurlock resolveu fazer uma dieta radical: trinta dias a comer exclusivamente o que a McDonalds tinha para lhe oferecer e a aceitar sempre que lhe propunham o "super size". Os resultados que isso teve para o seu bem-estar físico e psicológico ultrapassaram o que ele próprio e os médicos que o acompanharam esperavam. Há cenas do filmes que são perfeitamente arrepiantes... Vómitos, variações de humor, dependência...

A verdade é que o fast-food tem ganho um espaço cada vez maior na alimentação do mundo ocidental. Também é verdade que a obesidade se está a tornar numa verdadeira epidemia nos Estados Unidos e que o fast-food muito tem contribuído para isso. Mas será a responsabilidade da McDonalds ou de quem escolhe ir lá frequentemente? Será a obesidade um problema em si mesmo ou um sintoma da forma como procuramos desesperadamente encontrar no consumo de qualquer coisa a satisfação que nos falta na nossa própria vida?

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