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2005/03/31

Filmes: Um aviador compulsivo 

Já vi o Aviador há mais de um mês, bem antes do seu sucesso nos Óscares. Até agora, não sei explicar muito bem porquê, resisti a escrever. Mas este filme merece um comentário!

Apesar de já toda a gente o ter visto, acho que é um filme que resiste à primeira impressão. É um blockbuster que nos deixa a pensar. As obsessões sucessivas e paralelas de Howard Hughes fizeram-me lembrar as obsessões quotidianas que sinto e vejo todos os dias. Obsessões que nos levam a trabalhar, a apaixonar-nos por uma ideia, uma ambição, um ideal... Mas até onde nos levam essas paixões? E que espaço roubam para outras paixões? E aí recordo a imagem sombria do velho Howard Hughes, consumido pelos seu próprios sonhos, incapaz de se relacionar com os outros, enclausurado nas suas obsessões compulsivas...

É isto que torna este filme admirável. É verdade que perde ritmo na segunda metade, mas acho que não podia ser de outra forma. Se assim não fosse, o filme tornava-se num épico, reduzindo-se à vulgaridade. É precisamente a segunda parte que eu acho mais rica, a fase final da vida de Howard Hughes, a sua queda. É aí que Leonardo DiCaprio brilha mais alto na sua loucura e é esse travo amargo que torna o filme invulgar. Vamos rever?

2005/03/27

Música: A universal Amália 

Foi de surpresa que ouvi pela primeira vez Amália a cantar Summertime... Depois da surpresa, foi com fascínio que a escutei a recrear Blue Moon com a mesma naturalidade com que deu voz ao Concerto de Aranjuez de Rodrigo. Que Amália é esta, onde estava escondida?

Há um disco que responde a este enigma. Acho que não é fácil de encontrar e só me cruzei com ele pela mão de uma boa amiga. Trata-se de Amália Universal, uma compilação editada há algum tempo pelos jornais Público, DN e JN. É natural que não seja fácil de encontrar, mas o Amália Internacional, editado em 1989 pela Valentim de Carvalho, é um bom substituto.

Seja um ou outro disco que se encontre, a magia desta Amália é que, paradoxalmente, é a Amália que todos conhecemos mas, ao mesmo tempo, é outra completamente diferente. Só por isso vale a pena redescobrir este som...

2005/03/19

Livros: Paragem em Budapeste 

Confesso que nunca tinha lido nada do Chico Buarque. Lido não... Só ouvido. Confesso que quando o Estorvo, o primeiro romance dele foi publicado, não tive interesse sequer em folheá-lo. Confesso que nunca tinha ouvido falar em Budapeste até ter ficado sem leitura de férias. Sem leitura de férias e com poucas opções de escolha... E aí o livro veio parar às minhas mãos.

Fiquei preso no primeiro parágrafo. Melhor, fiquei preso quando li parte desse parágrafo na capa do livro. Preso pelo ritmo da escrita. Preso pela forma como o tempo serpenteia ao longo do livro, avançando e recuando de uma forma que parece natural, como se o mar de Copabana ondulasse em uníssono com o Danúbio que divide Buda e Peste. E esse ritmo levou-me a dobrar página após página, preso no espaço estreito que divide a realidade do sonho...

Ao fim de dois dias, cheguei a Budapeste pela última vez. O som da língua magiar tornara-se música para os meus ouvidos. Uma música do acaso, como se Paul Auster se tivesse desdobrado em Chico Buarque. Falo em Auster porque o aroma da escrita dos dois se torna tão semelhante que me leva a perguntar se Buarque não será afinal o autor anónimo dos livros de Auster... Ou vice-versa... Ou, pelo contrário, talvez seja mesmo José Costa o autor dos livros dos dois...

2005/03/03

Segundos... 

Porque não me esqueço eu de viver... para viver?


Diário do último ano - Florbela Espanca

2005/03/01

Momentos: ...de bruma 

Tal como a bruma não deixa
Marca na colina verde escura
Assim o meu corpo não deixa
No teu marca presente ou futura.

Falcão e vento encontram-se,
Que palavras ficam por dizer?
Os nossos corpos encontram-se
E voltam-se para adormecer.

Pobre, a noite resiste
Sem estrelas nem luar,
Pobre, um de nós resiste
Quando o outro se afastar.

Leonard Cohen, O jogo preferido

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